Monday, October 08, 2012

Thaddeus Pawlowski fala sobre os dilemas urbanísticos das metrópoles

Thaddeus Pawlowski fala sobre os dilemas urbanísticos das metrópoles



Urbanista americano reflete sobre os desafios de metrópoles como São Paulo e Rio em planejar e privilegiar áreas propícias para caminhar


Ao descer a rampa do Auditório Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer nos anos 1950 em São Paulo, o arquiteto e designer americano Thaddeus Pawlowski faz uma reclamação:

— Esta descida poderia ser menos torta, mais agradável para os pés. Mas Niemeyer é assim, preocupa-se mais com a forma do que com a funcionalidade.

Aos 36 anos, Pawlowski é um dos principais urbanistas do Departamento de Planejamento da Prefeitura de Nova York. Trabalhou na reforma da Penn Station e atua na reurbanização da área de Hudson Yards, no West Side. Foi um dos criadores da competição de design “What If NYC...”, voltada para a criação de habitações urbanas pós-desastres, e participou, em 2011, de um programa de intercâmbio de experiências de design urbano entre Nova York e São Paulo. Pawlowski voltou à cidade brasileira esta semana, quando, ao lado de outros nomes importantes da atual arquitetura mundial, participou da terceira edição da Arq.Futuro, cujo tema foi o futuro das metrópoles contemporâneas. Na entrevista abaixo, dada às vésperas das eleições municipais, Pawlowski fala sobre os desafios de cidades como Rio e São Paulo e do crescente “papel social da arquitetura”.



Relatório recente da ONU mostrou que a América Latina é a região mais urbanizada do mundo, e o índice brasileiro é o maior: hoje, mais de 86% da população vivem em cidades. Quais os principais desafios que isso representa?
Um dos desafios do design urbano é fazer as perguntas certas antes de tentar resolvê-las. Pelo que vi no Rio e em São Paulo, os desafios maiores são resolver problemas de moradias ilegais, trânsito e segurança. O importante é ter a consciência de que todos estão associados à situação de caos urbanístico.

E como resolver essas questões?

Redesenhando os espaços públicos, como principal objetivo de que eles sejam mais propícios ao caminhar. Sempre devemos colocar o pedestre em primeiro lugar; as bicicletas em segundo; e os carros devem vir somente em terceiro. Por pedestre entende-se aquele que sai de casa, caminha até um ponto de transporte público e dele até seu trabalho ou lazer. Uma cidade livre, agradável e funcional é aquela que oferece mais do que uma opção de deslocamento à população.

Nova York passou, nos últimos anos, por projetos urbanísticos que mudaram radicalmente o estilo de vida da população. O senhor poderia citar alguns exemplos?

Estamos perto da meta de fazer com que cada nova-iorquino more a uma distância que se possa caminhar até um parque. O Brooklyn Bridge, o High Line e o East River são importantes espaços públicos criados nos últimos anos, com participação ativa de governo, iniciativa privada e comunidade. “Olhos na rua” é a expressão que usamos. Os espaços e os prédios ao seu redor passam a oferecer uma variada gama de serviços: lojas, restaurantes, escritórios e moradia, criando uma experiencia contínua para o pedestre.

E Rio e São Paulo?
Em São Paulo, tirando alguns poucos bairros, por exemplo, quase não há calçadas! Como criar uma boa experiência de caminhar se não há calçadas? O Rio tem umas calçadas ótimas, porém mais na Zona Sul, uma área em que pouquíssimas pessoas podem pagar para morar. Isso exclui, não inclui. Daí a necessidade de revitalizar áreas como a zona portuária, levar a população para morar no Centro. Não apenas morar: trabalhar, sair para jantar, comprar, etc. Espero que o Rio se transforme com as Olimpíadas, a exemplo do que aconteceu com Barcelona em 1992.

As favelas representam um grande problema urbanístico para a América Latina. Além das questões de saneamento e violência, há a segurança das casas em si, que, em períodos de seca, pegam fogo, e nos de chuvas, desabam. Como planejar para que isso não aconteça?

As UPPs no Rio e os projetos de revitalização das favelas de São Paulo são táticas recentes e muito interessantes. Primeiro, é preciso saber o que está lá, fazer um mapa muito compreensivo de quem mora nestas áreas. O que essas pessoas fazem? Quais são suas vulnerabilidades? E trabalhar ativamente com os moradores, pensando junto em melhorias, criando vizinhanças mais seguras em todos os aspectos. Não é fácil, precisa de muitos estudos detalhados e um envolvimento entre profissionais e sociedade.

O trânsito está cada vez pior, mas ao mesmo tempo o governo reduz impostos para estimular o consumo e a população sai correndo para comprar carros, prejudicando este “olho na rua”...

Com certeza isso é impor uma escolha sobre as demais. É estranho e pouco saudável para a vida urbana. Nos EUA, onde a tradição de rodovias e carros é enorme, várias cidades já estão repensando o uso de automóveis — mesmo aquelas como Los Angeles, desenvolvidas no pós-guerra quando a indústria automobilística passou a dominar. Downtown LA está ganhando parques, as pessoas estão andando mais a pé. O mesmo vem ocorrendo em Portland, Chicago. As prefeituras americanas estão encorajando este “retorno ao Centro” porque estamos chegando a uma situação em que o crescimento está insustentável do ponto de vista econômico e ecológico.

E os profissionais de arquitetura e design estão preparados para esta demanda? Qual o papel da arquitetura neste mundo em transformação?

Uma das novas discussões é que a arquitetura agora não deve ser pensada apenas em termos artísticos e de forma, mas também em termos funcionais, repensando os espaços públicos. Quando eu estava na universidade, a forma era muito importante. Agora, os aspectos sociais da arquitetura recebem mais atenção no mundo acadêmico. Sempre haverá espaço para grandes trabalhos criativos, mas é muito mais desafiante lidar com esses problemas urbanos. Bolar um jeito de formalizar casas informais, por exemplo, do que criar um auditório como este (o do Ibirapuera). Os gênios arquitetônicos de amanhã serão os que resolverão os grandes problemas urbanos.

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