Sunday, December 01, 2013

Mutirão de Reflorestamento

Mutirão de Reflorestamento

Um amplo programa de reflorestamento vem sendo implantado, com a maciça participação da população neste processo. Saiba como plantar a sua árvore

25 de Novembro de 2013
Divulgação/Prefeitura do Rio de Janeiro

A Cidade Maravilhosa tem a maior floresta urbana do mundo, com mais de 35 mil hectares de Mata Atlântica que cobrem 29% de seu território. Mas devido ao desmatamento provocado pela expansão urbana, a cidade perdeu cobertura vegetal, expondo seus moradores a poluição, enchentes e deslizamentos.

Segundo a Prefeitura, a cidade do Rio tem umas 18 mil moradias em áreas de alto risco em 117 comunidades e é o empenho individual que tem ajudado a mudar a realidade. "É gratificante para mim e todos os moradores ver que nos anos de 1980 aconteciam acidentes fatais, que não ocorrem mais graças ao reflorestamento ", afirma Djair dos Santos, 66, morador do Morro da Formiga (Tijuca, Zona Norte do Rio), há 14 anos encarregado do Mutirão que recuperou 80 hectares no morro em que mora.

Em 26 anos, o programa da Prefeitura reflorestou mais de 2.200 hectares em cerca de 140 pontos da cidade, a maioria em comunidades carentes. Atualmente, o projeto está presente em cerca de 150 comunidades distribuídas em todas as áreas da cidade, como os morros do Alemão, Formiga, Santa Marta, Babilônia, Borel, Rocinha, Salgueiro e Dendê. Com um contingente de 800 trabalhadores, mantém uma área implantada superior a 2.000 hectares, onde foram plantadas mais de seis milhões de mudas de espécies florestais.

Apoio extra
A prefeitura do Rio de Janeiro e o Banco Mundial fizeram uma parceria para ampliar os esforços de reflorestamento nos morros da cidade, onde normalmente há favelas. Cerca de 1,2 milhão de pessoas - 22% da população do município - vivem nessas áres e cerca de 300 mil pessoas estão em condições insalubres, uma consequência direta do desmatamento urbano.
"O reflorestamento nos morros do Rio é feito desde 1980, mas, para alcançar as áreas mais altas, a cidade precisa de recursos e assistência técnica. Com os créditos de carbono, é criada uma fonte de renda que sustenta esses esforços", explica Franka Braun, especialista em financiamento de carbono no Banco Mundial, acrescentando que "nessa nova etapa do reflorestamento urbano, o Banco ajuda a prefeitura do Rio a desenvolver os aspectos relacionados à contagem, ao sequestro e ao financiamento de carbono".

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente vem medindo o potencial de ampliação do reflorestamento nas zonas mais distantes da cidade. Essas áreas precisam atender não só aos requisitos do Rio Capital Verde, mas também aos do Padrão Verificado de Carbono. Cerca de 5 mil hectares se encaixam nesses critérios.

Para as Olimpíadas
Uma das ações de preparação para a cidade se tornar a sede dos Jogos Olímpicos de 2016 é o Projeto Reflorestamento de encostas. Entre os anos de 2010 e 2012, dois milhões de novas mudas foram plantadas na cidade, especialmente na Zona Oeste, uma das mais degradadas do município. Além de 800 trabalhadores, o programa conta também com o auxílio de moradores das mais de 150 comunidades que foram beneficiadas. Buscando diminuir o risco de deslizamentos e aumentar a segurança da população, a meta dos próximos quatro anos é replantar mais 600 hectares, sendo 150 a cada ano até 2016.








Seja um voluntário
Conheça alguns projetos que estão esperando você!
Parque Nacional da Tijuca
http://www.corcovado.org.br/voluntariado.php

O Programa de Voluntariado do Parque Nacional da Tijuca busca a conservação de uma das Unidades de Conservação mais conhecidas do país. Os limites do Parque se estendem por uma área de 39,53 km², onde estão o Corcovado, Pedra da Gávea, Vista Chinesa e Pico da Tijuca, entre muitos outros.

Projeto Reflorestamento Tinguá
https://www.facebook.com/RedeSustentavell/info

A meta do Projeto Tinguá é plantar 100.000 mil mudas até o ano de 2016 em áreas degradadas no entorno da Reserva do Tinguá, Serra de Madureira e APAs da Baixada Fluminense.

Pão de Açúcar Verde
http://paodeacucarverde.blogspot.com.br/

Os mutirões mensais que acontecem no primeiro domingo do mês, quando os voluntários participam diretamente do processo de reflorestamento nas faces leste e sul do Morro Pão de Açúcar.

A Cidade Maravilhosa tem a maior floresta urbana do mundo, com mais de 35 mil hectares de Mata Atlântica que cobrem 29% de seu território. Mas devido ao desmatamento provocado pela expansão urbana, a cidade perdeu cobertura vegetal, expondo seus moradores a poluição, enchentes e deslizamentos.

Segundo a Prefeitura, a cidade do Rio tem umas 18 mil moradias em áreas de alto risco em 117 comunidades e é o empenho individual que tem ajudado a mudar a realidade. "É gratificante para mim e todos os moradores ver que nos anos de 1980 aconteciam acidentes fatais, que não ocorrem mais graças ao reflorestamento ", afirma Djair dos Santos, 66, morador do Morro da Formiga (Tijuca, Zona Norte do Rio), há 14 anos encarregado do Mutirão que recuperou 80 hectares no morro em que mora.

Em 26 anos, o programa da Prefeitura reflorestou mais de 2.200 hectares em cerca de 140 pontos da cidade, a maioria em comunidades carentes. Atualmente, o projeto está presente em cerca de 150 comunidades distribuídas em todas as áreas da cidade, como os morros do Alemão, Formiga, Santa Marta, Babilônia, Borel, Rocinha, Salgueiro e Dendê. Com um contingente de 800 trabalhadores, mantém uma área implantada superior a 2.000 hectares, onde foram plantadas mais de seis milhões de mudas de espécies florestais.

Apoio extra

A prefeitura do Rio de Janeiro e o Banco Mundial fizeram uma parceria para ampliar os esforços de reflorestamento nos morros da cidade, onde normalmente há favelas. Cerca de 1,2 milhão de pessoas - 22% da população do município - vivem nessas áres e cerca de 300 mil pessoas estão em condições insalubres, uma consequência direta do desmatamento urbano.

"O reflorestamento nos morros do Rio é feito desde 1980, mas, para alcançar as áreas mais altas, a cidade precisa de recursos e assistência técnica. Com os créditos de carbono, é criada uma fonte de renda que sustenta esses esforços", explica Franka Braun, especialista em financiamento de carbono no Banco Mundial, acrescentando que "nessa nova etapa do reflorestamento urbano, o Banco ajuda a prefeitura do Rio a desenvolver os aspectos relacionados à contagem, ao sequestro e ao financiamento de carbono".

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente vem medindo o potencial de ampliação do reflorestamento nas zonas mais distantes da cidade. Essas áreas precisam atender não só aos requisitos do Rio Capital Verde, mas também aos do Padrão Verificado de Carbono. Cerca de 5 mil hectares se encaixam nesses critérios.

Para as Olimpíadas
Uma das ações de preparação para a cidade se tornar a sede dos Jogos Olímpicos de 2016 é o Projeto Reflorestamento de encostas. Entre os anos de 2010 e 2012, dois milhões de novas mudas foram plantadas na cidade, especialmente na Zona Oeste, uma das mais degradadas do município. Além de 800 trabalhadores, o programa conta também com o auxílio de moradores das mais de 150 comunidades que foram beneficiadas. Buscando diminuir o risco de deslizamentos e aumentar a segurança da população, a meta dos próximos quatro anos é replantar mais 600 hectares, sendo 150 a cada ano até 2016.
(Incluir galeria com fotos de algumas encostas revitalizadas. Fotos: Rio Cidade Olímpica)

Fonte: http://vejario.abril.com.br/edicao-da-semana/projeto-reflorestamento-rj-761239.shtml



Thursday, May 30, 2013

Entrevista com Ermínia Maricato

 
 
                                                    Foto: Erminia Maricato
 
 
 
Na opinião da urbanista Ermínia Maricato, é preciso tomar cuidado para que o recém-iniciado processo de revisão do Plano Diretor Estratégico não produza mais uma pedaço de papel com pouca influência na “cidade real”.

Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP desde a década de 70, Ermínia é uma das mais respeitadas urbanistas do país, não só por sua produção acadêmica, mas também pela atuação política e experiência no poder Executivo: foi secretária de habitação da cidade durante a gestão de Luiza Erundina e secretária executiva do Ministério das Cidades no início do governo Lula.

A experiência de décadas na luta pela reforma urbana a levou a conhecer um sem número de leis, planos e programas bem intencionados e progressistas, mas que na prática eram solenemente ignorados pelo poder público. Nesse rol  inclui o Plano Diretor aprovado em 2002, que pouco teria mudado a estrutura desigual da urbe paulistana.

No país das “obras sem planos e planos sem obras”, sua solução para quebrar esse paradigma é elaborar um instrumento que efetivamente controle e oriente os investimentos na cidade, tanto públicos como privados, evitando o “vale-tudo” do mercado imobiliário.

Confira a entrevista:
 


Portal CMSP - Primeiro eu queria que você falasse um pouco sobre sua visão a respeito do Plano Diretor. Você já disse em outras entrevistas que tem a impressão que estamos produzindo um monte de papéis e não interferindo na realidade das cidades.

Ermínia Maricato - Os planos diretores são leis, e, como grande parte da legislação brasileira, muitos deles não são aplicados ou são aplicados de acordo com as circunstâncias. Eu, em mais de 40 anos de vida profissional e acadêmica, fico muito impressionada com o número imenso de casos que conheci de leis que são aplicadas pelo inverso. A legislação brasileira, principalmente essa legislação que trata do solo, é muito pró-justiça social. Tanto a legislação que se aplica ao campo como a que se aplica à cidade. Como é o caso do Estatuto da Cidade, que é uma lei festejada no mundo inteiro. Mas o Estatuto da Cidade é uma lei ignorada no Brasil, pode-se dizer.

Eu lembro muito de uma frase do Sérgio Buarque de Hollanda, que no Raízes do Brasil comenta como você tem uma cultura livresca no país. Uma cultura de discurso, que está distante da realidade. Ele diz que a vida morre asfixiada, enquanto você tem uma esfera de produção literária, de discursos, de debates que não se cola na realidade. Enquanto isso, a cidade é um desgoverno, porque é orientada por interesse privados. Quem pode mais, chora menos.




CMSP - E nesse contexto, como fica o Plano Diretor?

EM - O Plano Diretor é o rei desse papel. Ele é o fetiche, o mito, principalmente na mídia. Isso eu canso de ouvir: "a cidade não tem planejamento". São cidades que têm planos, porque todas as cidades brasileiras têm, mas elas não seguem os planos.




CMSP - Mas as determinações do Plano Diretor não são vagas demais?

EM - Sem dúvida. No Brasil, outra coisa que a gente vê é que as leis não são autoaplicáveis. Quando ferem os interesses dos poderosos, elas não são autoaplicáveis. Elas são vagas. Então, no Plano Diretor, as questões mais importantes ficaram remetidas às leis complementares, o que depois não se faz.

É possível aplicar o Plano Diretor. É uma diretriz investir mais em transporte coletivo. Não tem como não entender isso. Ou você aplica ou não aplica, não dá pra dizer que precisa de uma lei complementar. Mas aí vem alguém e diz que falta uma lei sobre o transporte coletivo. Que defina como ele vai ser prioridade, como será planejado.

Outra coisa que é comum no Brasil é a interpretação da lei. Por exemplo: despejo de população que não tem alternativa de moradia. Isso fere um monte de leis. E há momentos em que a gente tem que dizer isso para os juízes. Porque parece que os eles julgam despejos pelo Código Civil de 1917. É como se a propriedade fosse inviolável, absoluta. Ou eles não conhecem as leis ou o ideológico toma o lugar da lei. De alguma forma, o interesse privado sempre prevalece.

 

CMSP - Então você acha que o Plano Diretor não serve para muita coisa, na prática?

EM - É muito importante lembrar que quando a gente defendeu a proposta de reforma urbana , na Constituição de 1988, nós não colocamos o Plano Diretor. O plano foi para a Constituição Federal não por conta da iniciativa popular do movimento de reforma urbana, que reunia pesquisadores, arquitetos, engenheiros, advogados e movimentos sociais. Nós não acreditávamos em Plano Diretor. Porque nós tivemos a primeira geração de planos, na época da Ditadura, que existiam só para constar. A cidade não recebia dinheiro se não tinha Plano Diretor. E correm entre os urbanistas diversas piadas sobre esses planos. Um escritório fazia tantos deles que se enganou e fez o plano para uma cidade sobre o mapa da outra.

A cidade também é uma construção ideológica. A cidade real é uma. A cidade com a qual nós lidamos nos conceitos técnicos, principalmente a elite, é outra. O Flávio Villaça fala muito dessa construção da cidade-ficção.

 

CMSP - Existe alguma alternativa a esse estado de coisas?

EM -Eu faço uma proposta que é a do Plano de Ação. Substituir o Plano Diretor pelo Plano de Ação. Por quê? O Plano diretor é um amontoado de boas intenções. E como o Millôr Fernandes já disse, enquanto os sábios discutem a incerteza, os ignorantes atacam de surpresa. Enquanto você discute boas intenções, a cidade vai se construindo segundo uma conjunção de interesses. Então, você tem, como na época do Maluf, obras sem plano e planos sem obras. O plano não interfere no orçamento.

 

CMSP - Mas qual seria a diferença do Plano de Ação?

EM - Primeiro: controle e orientação dos investimentos. Criação de um serviço especial do uso e ocupação do solo. O que quer dizer isso? Não tem que ficar na mão de gente que ganha pouco e tem que ser transparente. Esse é um dos nossos maiores problemas. Enfoque integrado das ações sociais, ambientais e econômicas. Ou seja, integração entre as secretarias que vão fazer o Plano de Ação. E detalhamento de planos executivos específicos das prioridades: habitação, transporte público e meio ambiente, incluindo saneamento básico e drenagem. Se o Plano Diretor contiver isso aí, você pode chamar de Plano Diretor.

Esse Plano Diretor, que vem da época da Ditadura, está gagá. Nós precisamos mudar essa peça.

 

CMSP - Um dos grandes escândalos dos últimos tempos, aqui em São Paulo, tem a ver com habitação. É uma área com muita corrupção por uma excessiva burocratização?

EM - Não é só pela burocracia, mas acho que tem a ver. Uma lei muito detalhista, uma burocracia exagerada para aprovar as coisas. Muita gente não sabe, mas para podar uma árvore dentro de um terreno privado você tem que pedir autorização. Existem detalhes que são absurdos e convivem com a flexibilização que vem da corrupção ou da ilegalidade.

Mas você tem uma parte da cidade que é ilegal não porque a lei é rigorosa, é por desigualdade social. Essa parte da cidade não tem condição de entrar no mercado imobiliário e nem é atendida pelas políticas públicas. Às vezes é a maior parte da população, no caso de Belém, Recife. No município de São Paulo, você tem, sei lá, um quarto dos domicílios que não seguem as leis. Essa população está,  grande parte dela, em área de proteção ambiental. Não é por problema legal, é muito mais por uma questão estrutural mesmo. No Brasil, quem é pobre vai para fora da lei. Mesmo quando o rico está fora da lei, ele não é considerado fora da lei. Por exemplo: loteamentos fechados. É uma ilegalidade. A lei que rege o parcelamento do solo é a Lei Federal 6.766, de 1979, que não permite fechar ruas em um loteamento. Então nós estamos em um país onde a lei tem um papel ideológico importante.

 

CMSP - E qual sua opinião sobre o Arco do Futuro?

EM - Eu acho que precisa ser de fato investimento privado, exceto no transporte público. E, na PPP, o privado financiar a moradia social com algum subsídio do governo. E ter inclusão social. Aí eu concordo com o Arco do Futuro. Mas não ter esse investimento que foi feito na  Águas Espraiadas. Foi o poder público que bancou aquilo. Foi o poder público que valorizou a área para o Capital fazer um banquete.

 

CMSP - Mas a ideia do Arco do Futuro, como está no programa de governo do Haddad, é exatamente incentivar o mercado a investir em moradia popular, não?

EM - Qual é a proposta que os urbanistas estão fazendo, e eu concordo. Dependendo do porte de empreendimento ele tem que conter uma parte de habitação social. Mas você vai construir um edifício do lado de outro que vai ser habitado por uma população de baixa renda? Um dos efeitos é rebaixar o valor do metro quadrado. Mas se a gente conseguir isso é um grande avanço. E é algo que existe em muitos países. Na época da Erundina, a gente já estava fazendo essa proposta para o mercado. E eu até ouvi alguns empreendedores falarem que seria legal, porque a gente poderia ter empregados domésticos morando perto (risos).

 

CMSP - Mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar?

EM - Uma coisa que eu falaria é que a questão não é técnica. Eu tenho mais de 40 anos trabalhando pelo Brasil inteiro e até no exterior já fui fazer consultoria. A questão aqui não é técnica, ela é exclusivamente política.

(Rodolfo Blancato)

Sunday, November 18, 2012

Os mapas e a construção de diferenças na cidade. Institucionaliza-se um discurso segregador?

Os mapas e a construção de diferenças na cidade. Institucionaliza-se um discurso segregador?

Wednesday, November 07, 2012


Entre os arranha-céus de Seul, uma favela não deixa a Coreia esquecer o passado

Barracos feitos de madeira, placas de metal e cobertores de lã sintética abrigam milhares de pessoas que não conseguiram se beneficiar do desenvolvimento econômico do país

Yan Boechat, enviado especial a Seul* |
http://economia.ig.com.br/2012-06-05/guryong-uma-favela-no-coracao-de-seul.html

Yan Boechat
Os barracos da favela de Guryong contrastam com a opulência dos edifícios de luxo do distrito de Gangnam, onde um apartamento não sai por menos de US$ 3 milhões





Uma das áreas mais nobres de Seul, o distrito de Gangnam une duas facetas do fabuloso desenvolvimento econômico pelo qual a Coreia do Sul passou nas últimas três décadas. Nas congestionadas ruas desse bairro repleto de arranha céus, lojas de grifes internacionais e bares com cara de pubs ingleses, jovens coreanos caminham apressados com os olhos colados em smartphones e tablets, sem, sabe-se lá como, esbarrar uns nos outros. As luzes coloridas dos luminosos em neon, as gigantescas telas em alta definição presas nos altos edifícios, os faróis dos carros quase futuristas, tudo reforça a imagem de um país moderno, que caminha no limite do desenvolvimento tecnológico e da pujança econômica.
Leia também: Coreia do Sul demonstra interesse em acordo comercial com Brasil
Mas a menos de cinco quilômetros desse típico cenário asiático do século 21, persistem inalterados os resquícios de um país que até 50 anos atrás era um dos mais pobres do mundo. Escondidos por trás de compridos ciprestes e um longo muro de pedra que margeia uma movimentada avenida, centenas de barracos feitos de placas de metal, pedaços de madeira, papelão e, curiosamente, cobertores de lã, abrigam uma parcela da população coreana que não conseguiu se beneficiar dessa recente expansão econômica. Ao todo moram 2,2 mil pessoas em Guryong , uma típica favela, na melhor acepção da palavra, mesmo para especialistas no assunto, como os brasileiros.
A favela de Guryong ocupa uma área de 58 mil metros quadrados na região mais rica de Seul, onde a cada ano novos empreendimentos bilionários são erguidos para servir de lar para a camada mais alta do país. No complexo de edifícios que faz às vezes de horizonte para os moradores de lá, cada apartamento é avaliado em cerca de US$ 3 milhões. Apesar da proximidade com a opulência sul-coreana em Guryong há pouco luxo.

Quase todos os barracos são desprovidos de banheiros, poucos têm um sistema de aquecimento eficaz – algo primordial em uma cidade onde a temperatura cai abaixo de zero no inverno – e há pouca urbanização. Os barracos são geminados e as vielas tão estreitas que em muitos casos duas pessoas não conseguem caminhar lado a lado. “É uma vida difícil, muita gente fica doente com facilidade no inverno, não é o que gostaríamos para nossas vidas”, diz Kim-Won Sim, uma das poucas pessoas a quem a reportagem do iG teve acesso para conversar.

Guryong é resultado direto do processo de expansão econômica da Coreia do Sul. Nos meses que antecederam a abertura dos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, o governo deu início a um processo de “limpeza” estética de sua capital. A intenção era mostrar ao mundo como o país saíra da miséria de 30 anos antes para se transformar em um tigre asiático que despontava na esteira do desenvolvimento japonês. Havia também um componente político. Com a guerra fria ainda em curso, era importante fazer propaganda do sucesso da experiência capitalista, em contraste ao fechado comunismo da Coreia do Norte, apoiada pela então União Soviética. Quem era pobre e morava perto dos estádios e ginásios dos Jogos foi desalojado.



Assim, Guryong nasceu como nascem quase todas as favelas do mundo. Sem ter para onde ir, os desalojados invadiram uma área privada no que era então o cinturão verde de Seul. Estão lá há 24 anos e a maior parte dos moradores trabalha catando papelão nas ruas de Seul para abastecer uma usina de reciclagem instalada ao lado da favela. Outros atuam na construção civil e muitos fazem, simplesmente, bicos. A média salarial por família é estimada em cerca de US$ 500 por mês, muito abaixo dos US$ 2,5 mil médio de cada coreano.

Quase toda a favela de Guryong é composta de barracos precários. Foto: Yan Boecha


Quase toda a favela de Guryong é composta de barracos precários. Foto: Yan BoechatAo todo, mais de 2 mil pessoas moram na favela, que foi instalada há 24 anos em terrenos privados. Foto: Yan BoechatPublicidadeOs barracos são construídos colados uns aos outros e, do alto, parecem uma construção homogênea . Foto: Yan BoechatUm córrego onde parte do esgoto é despejado corre ao ar livre por toda a favela. Foto: Yan BoechatAs vielas são tão estreitas que em muitos pontos apenas uma pessoa pode passar. Foto: Yan BoechatIgreja. Foto: Yan BoechatA energia é compartilhada pelos moradores de Guryong de forma não exatamente organizada. Foto: Yan BoechatPraticamente todos os barracos da favela não têm banheiro e os sanitários disponíveis são compartilhados pelos moradores. Foto: Yan BoechatHá um pequeno comércio de bens e serviços em Guryong, como esse salão de beleza improvisado. Foto: Yan BoechatNão há nenhuma área de lazer na favela de Guryong e sofás velhos e cadeiras fazem o papel de varandas improvisadas. Foto: Yan BoechatAo lado da favela uma usina de reciclagem de lixo compra o que os muitos catadores de papelão que moram ali conseguem recolher nas ruas de Seul. Foto: Yan BoechatBoa parte dos moradores de Guryong é formada por pessoas idosas. Foto: Yan BoechatCachorros não muito comuns nas ruas de Seul, mas em Guryong eles caminham tranquilamente . Foto: Yan BoechatComo em qualquer favela do mundo, a improvisação floresce. Foto: Yan BoechatPraticamente todos os barracos são revestidos com cobertores de lã sintética. Foto: Yan BoechatPontes improvisadas sobre o córrego que corta a favela de Guryong. Foto: Yan Boechat

Construída sobre fortes pilares liberais, a Coreia do Sul que emergiu nas últimas décadas não lida bem com locais como Guryong. Em uma sociedade onde o sucesso profissional e financeiro tornou-se uma obsessão tão grande ao ponto de a maior parte 
dos coreanos abdicar das férias a que tem direito para produzir mais, viver em uma favela é sinônimo de fracasso absoluto.
“Isso aqui é uma vergonha para a Coreia e as pessoas que moram aqui sabem disso”, diz Lee Hyun-Moon, um oficial da polícia que controla a entrada e saída de não moradores de Guryong. É difícil encontrar alguém disposto a conversar ali. Quando surge uma câmera as pessoas escondem os rostos ou simplesmente apressam o passo para não serem retratadas. “Não é orgulho para ninguém viver aqui, é vergonhoso”, KimWon-Sim, que também trabalha no centro comunitário da favela.





Yan Boechat
Para Kim Won-Sim, é uma vergonha para um coreano ter que viver em uma favela

A pressão por ser bem sucedido nessa Coreia moderna e ocidentalizada faz do país o campeão absoluto de suicídios entre as nações desenvolvidas. Por ano, 28,4 pessoas em cada grupo de 100 mil habitantes tira a própria vida. Entre apenas os homens, esse índice sobe para impressionantes 39 suicídios para cada grupo de 100 mil habitantes. Com 50 milhões de habitantes, a Coréia do Sul vê, anualmente, 14,2 mil pessoas cometerem suicídio. E esse número vem subindo ano a ano, na mesma proporção do desenvolvimento econômico do país.





De acordo com dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE, o índice de suicídios na Coreia do Sul cresceu impressionantes 153% entre 1995 e 2009. Entre os 35 países analisados, só a Coreia e outras quatro nações registraram crescimento no período. No Brasil a taxa de suicídio é de 4,9 mortes por 100 mil habitantes, enquanto a taxa de homicídios está em 26 crimes por 100 mil habitantes. Na prática, é possível afirmar que, proporcionalmente, mais pessoas tiram a própria vida na Coreia do Sul do que são assassinadas no Brasil, ainda um dos países mais violentos do mundo.
Não há levantamento estatístico que mostre o número de suicídios nas favelas coreanas. Mas por conta do passado recente de abusos contra as populações mais pobres na disputa por áreas nobres, especialmente em Seul, há um permanente clima de tensão. A Coreia do Sul vem implantando um controverso programa de reurbanização nas grandes cidades que consiste, basicamente, em desalojar populações de menor renda para dar lugar a empreendimentos de alto padrão.
Recentemente, a Comissão Asiática de Direitos Humanos fez duras críticas ao governo da Coreia do Sul por conta dessa política. O caso mais célebre é conhecido como “A Tragédia de Yongsan”, quando seis pessoas que protestavam por serem desalojadas de uma espécie de cortiço na região central de Seul, em 2009, foram mortas pelas forças policiais sul coreanas.
Guryong, de certa forma, terá o mesmo destino de Yongsan – sem os casos de violência, espera-se. Os donos dos terrenos onde as duas mil pessoas vivem estão requerendo a área na Justiça. A ideia é construir um empreendimento imobiliário avaliado em US$ 1 bilhão.
A prefeitura de Seul já deixou claro que não há a menor possibilidade de os moradores continuarem ali e vem trabalhando para retirá-los. Instalou no local um posto policial para impedir novas invasões e destruir as casas que forem desocupadas. Dessa vez, garantem as autoridades, os moradores serão realocados de forma digna. Só não está claro para onde elas serão levadas dessa vez.
* O repórter viajou à Coreia do Sul a convite da empresa Hankook Pneus

Sunday, November 04, 2012

Enchentes em São Paulo


                                                                                    Foto: Valter Caldana


Entrevista com o Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie sobre enchentes em São Paulo , que sugere uma revisão geral no uso e ocupaçãodo solo .


http://jovempan.uol.com.br/videos/como-resolver-o-problema-das-enchentes-em-sp-52733,1,0

Friday, November 02, 2012

OS NOVOS PREFEITOS E AS ENCHENTES

OS NOVOS PREFEITOS E AS ENCHENTES

Qualquer intenção mais consistente em obter sucesso no enfrentamento das enchentes urbanas exigirá de nossos novos prefeitos a compreensão e adoção de três premissas básicas: sim, é possível reduzir substancialmente o impacto das enchentes nas grandes cidades brasileiras; os programas para tanto até agora elaborados e executados fracassaram fragorosamente em seus objetivos; as chuvas não são as culpadas.
Concisamente, as enchentes urbanas são explicadas pelo incrível aumento do volume de águas de chuva que aflui, em tempos sucessivamente menores, para um sistema de drenagem (córregos, rios, bueiros, galerias, canais...) progressivamente incapaz de lhe dar a devida vazão.
Esse aumento do volume de água e a redução do tempo em que chega às drenagens são promovidos essencialmente pela impermeabilização do solo urbano, pela cultura de canalização e retificação de drenagens naturais e pela tendência de crescimento por espraiamento geográfico apresentada por grande parte de nossas cidades.
Como um enorme agravante a esse quadro, considere-se ainda o fantástico grau de assoreamento dessas drenagens por sedimentos provenientes dos intensos processos erosivos que ocorrem particularmente nas faixas periféricas de expansão da cidade, e, suplementarmente, por entulho de construção civil e por lixo urbano. Esse assoreamento acaba por reduzir ainda mais a já comprometida capacidade de vazão de toda a rede drenagem, implicando em enchentes progressivamente mais frequentes e abrangentes.
Ou se ataca essa questão em suas reais causas, através de um conjunto de medidas, ditas não-estruturais, que recuperem ao máximo a capacidade das cidades em reter as águas de chuva, seja por infiltração, seja por acumulação (pequenos reservatórios domésticos e empresariais, calçadas, valetas e pátios drenantes, bosques florestados e arborização intensa, etc,), revertam a tendência ao espraiamento geográfico e combatam a erosão em sua origem, ou nunca nos livraremos do flagelo das enchentes. As bilionárias obras de alargamento e aprofundamento das calhas de nossos rios principais, medidas ditas estruturais, são necessárias, mas a realidade mostra que são insuficientes e já se aproximam de seu limite de benefícios, além do que seus efeitos ficam condicionados a um ininterrupto, dispendioso e conturbador trabalho de desassoreamento de todo o sistema de drenagem.
Uma última e providencial sugestão aos futuros prefeitos: pactuar uma indispensável divisão de responsabilidades com os governos estaduais, pela qual caberia aos municípios a concepção e implementação das medidas não-estruturais e ao estado a execução das medidas estruturais.

Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
• Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia
• Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão” e “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”

Thursday, November 01, 2012

Debate sobre a habitação no Brasil



Observatório na Rádio CBN: debate sobre a habitação no Brasil



O déficit habitacional brasileiro é estimado em cerca de 5,5 milhões de unidades, sendo em torno de 1,5 milhões nas regiões metropolitanas. Desses totais, 90% correspondem a famílias em situação de pobreza, com renda familiar na faixa de 0 a 3 salários mínimos. O desafio da questão habitacional no Brasil foi um dos temas abordados pelo professor Adauto Lúcio Cardoso em entrevista à Rádio CBN no último domingo (27/10) – segundo turno das eleições municipais. Essa participação representa mais uma ação do INCT Observatório das Metrópoles com o propósito de difundir os temas metropolitanos aos diversos setores da sociedade brasileira.
Na entrevista para o jornalista Milton Jung, da Rádio CBN, o professor Adauto Lúcio Cardoso mostrou que o déficit habitacional é apenas uma parte dos problemas na área da moradia, porque o estoque de domicílios existente apresenta graves situações de precariedade. As estimativas do IBGE para os domicílios em áreas de favelas montam a um total de 3,2 milhões. Esse fenômeno, mais do que o déficit, tem uma concentração fortíssima nas metrópoles, com as regiões do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, sozinhas, agregando cerca de 1,2 milhões de domicílios, respondendo por 37,5% do total. A Região Metropolitana de Belém, que tem a maior concentração relativa de favelas no Brasil, tem mais da metade do seu parque domiciliar (cerca de 54,4%) em situação de precariedade habitacional. E esses números ainda não levam em conta os loteamentos irregulares e clandestinos das periferias, a irregularidade fundiária, o problema do saneamento e dos transportes.
Cardoso também defendeu que o problema habitacional não se resolve apenas com o financiamento e com os subsídios, embora estes sejam elementos fundamentais. É necessário tratar adequadamente o problema do acesso à terra e do controle sobre os processos de valorização fundiária. Além do mais, a Constituição estabeleceu claramente a competência municipal, ao estabelecer o princípio da função social da propriedade e colocá-lo sob a tutela dos Municípios. O Estatuto da Cidade, promulgado em 2001, reitera e detalha os princípios constitucionais, criando instrumentos que permitem aos governos locais atuar de forma muito mais eficaz na questão habitacional. No entanto, poucas administrações têm efetivamente atuado nesse campo, o que tem se refletido no aumento desenfreado do preço da terra nas áreas metropolitanas, inviabilizando ou dificultando a provisão de unidades para as camadas de baixa renda no âmbito do programa Minha Casa Minha Vida.