Pequim, a maior reforma urbanística do mundo
Pequim, a maior reforma urbanística do mundo
Foi-se o tempo em que Pequim, antiga capital das dinastias seculares
chinesas e sede do poder comunista , era um amontoado de palácios e templos
históricos cercado de prédios de inspiração arquitetônica realista
soviética, condomínios caindo aos pedaços em estilo BNH e precários hutongs
(como se chamam as antigas moradias populares). Os cerca de US$ 34 bilhões
que o governo chinês injetou no projeto das Olimpídas de Pequim, marcadas
para agosto, transformaram a capital, nos últimos sete anos, em palco do
maior e mais ambicioso projeto de reforma urbana do mundo.
Se, por um lado, as obras expulsaram para os subúrbios de Pequim, neste sete
anos, mais de três milhões de chineses — deslocados para dar lugar não
apenas aos estádios e parques olímpicos, mas também a largas avenidas,
condomínios de luxo ou novas estações de metrô —, por outro Pequim virou o
lugar onde o dinheiro fácil permite os projetos arquitetônicos e de
engenharia mais ambiciosos do planeta.
— O processo radical de crescimento econômico da China, acompanhado das
mudanças urbanas em Pequim, transformaram a capital no paraíso dos
arquitetos — diz o arquiteto chinês Xiaodong Liu, do escritório
Crossboundaries Architects, um dos mais ativos da China. — E não estamos
aqui falando de mudanças num ambiente fabricado como o de Dubai, mas num
ambiente vivo, natural e dinâmico como o de Pequim.
Segundo o arquiteto Ma Yansong, fundador e principal cabeça por trás do MAD
Studio, isto significa que, a despeito da riqueza histórica milenar de
templos e palácios de dinastias imperiais chinesas e da sisudez dos prédios
majestosos (e assombrosos) comunistas, Pequim se transformou também num
celeiro de projetos arquitetônicos de ponta que acrescentaram à cidade novos
marcos visuais.
— Pequim ganhou um toque arquitetônico de vanguarda muito bem-vindo num
momento em que a capital vinha sendo sufocada por projetos de condomínios
mais ou menos iguais ou prédios públicos de gosto duvidoso — diz Ma. O MAD
se tornou um dos escritórios de design mais populares de Pequim após
apresentar à prefeitura o projeto "Beijing 2050", em que propõe, entre
outras medidas, o reflorestamento da Praça da Paz Celestial e a construção
de ilhas metálicas sobre o distrito financeiro e empresarial de
Chaoyang. Ainda que o projeto pareça ousado em excesso, a capital da China
já exibe orgulhosa seus marcos futurísticos. Um deles é o gigantesco
terminal 3 do Aeroporto Internacional de Pequim (acima), com seu formato de
dragão (visto tanto do céu, na chegada do avião, quanto da rodovia que leva
ao aeroporto) e mais de um milhão de metros quadrados de área. Com
capacidade para receber 43 milhões de pessoas por ano em 2009 (o dobro do
transportado atualmente pelo Aeroporto de Guarulhos), o terminal é uma
criação de US$ 2,7 bilhões do escritório Foster & Partners, capitaneado
pelo lorde inglês Norman Foster:
— Este terminal é o maior e mais avançado aeroporto construído no mundo, uma
celebração da excitação e poesia de voar, um portal de entrada para Pequim —
disse Sir Norman Foster.
Outro novo ponto turístico obrigatório é o Centro Nacional de Performances
Artísticas (CNPA, acima), o ovo de titânio projetado pelo arquiteto Paul
Andreau e que parece flutuar sobre uma lâmina d'água ao lado do Congresso
Nacional do Povo em plena Praça da Paz Celestial. Erguido ao custo de US$
350 milhões, o CNPA foi lançado para ser o mais importante centro cultural
da China e encanta pela sua forma e pelo interior completamente forrado de
mogno vermelho brasileiro, onde ficam três grandes palcos para mais de cinco
mil pessoas.
Ainda mais arrojado que o CNPA, só a nova sede da rede estatal de TV chinesa
CCTV (acima). O quadrado vasado e retorcido é considerado hoje por
engenheiros e arquitetos como um dos projetos mais complexos do mundo: duas
torres, de 230 metros de altura, se erguem inclinadas e se tocam no topo e
na base em ângulos que formam um quadrado retorcido espalhado numa área de
405 mil metros quadrados. O prédio da CCTV, erguido a um custo superior a
US$ 800 milhões, nasceu nas pranchetas da dupla de arquitetos Rem Koolhass,
holandês, e Ole Scheeren, alemão.
E como este é um ano de Olimpíada, não poderiam ficar de fora da lista de
novos marcos arquitetônicos de Pequim os dois principais estádios
construídos para os jogos: o Estádio Nacional, ou Ninho de Passarinho
(acima), dos os arquitetos suíços Herzog & de Meuron (os mesmos por trás do
arrojado projeto da Tate Modern de Londres), e o Centro Nacional de Espo-tes
Aquáticos, ou Cubo D'água, executado pelo consórcio formado pela empresa de
engenharia Arup, o escritório de arquitetura australiano PTW e designers
chineses da China Construction Design.
Com capacidade para 91 mil pessoas, o Ninho de Passarinho custou US$ 486
milhões e é considerado um dos estádios com o melhor uso de ventilação e
iluminação natural do mundo, graças ao desenho de vigas de aço entrelaçadas
e vazadas. Montado ao custo de US$ 143 milhões, o Cubo (abaixo), por sua
vez, tem um intrigante formato de bolhas de sabão amontoadas que parece uma
brincadeira de cirança. Bobagem. Para transformar esta engenharia em
realidade, foram usadas 3.000 estruturas infláveis, construídas com um
material plástico conhecido como ETFE, que permite a entrada de luz solar e
retém o calor naturalmente, diminuindo o consumo de energia. Super
ecológico.
Pequim mais uma vez se revoluciona, desta vez com a ajuda da arquitetura.
Afinal, ao misturar sua história milenar ao traço dos maiores e mais
criativos designers do mundo, a cidade firma-se como uma das mais
interessantes metrópoles do planeta e dá à China uma inusitada aparência de
país onde a liberdade criativa, ao menos em termos urbanísticos, não é só
possível como bem-vinda.
Fonte- Globo on line 05.05.2008
http://oglobo.globo.com/blogs/gilberto/post.asp?cod_post=100837
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