Monday, October 26, 2009

Sete mandamentos da acessibilidade

Sete mandamentos da acessibilidade

Devagar e de forma pontual, o Desenho Universal vem sendo introduzido em novos empreendimentos - e começa a derrubar os padrões do homem médio, transformando as regras da arquitetura

Por Silvana Maria Rosso




Vila Dignidade, primeiro projeto da CDHU, idealizado a partir das diretrizes do Desenho Universal
Graças à instituição da lei federal 10.098, desde 2004 todo e qualquer projeto arquitetônico ou urbanístico no Brasil deve seguir a NBR 9050 e atender aos princípios do Desenho Universal, que prega a democratização dos usos dos espaços e objetos. Cinco anos depois, assistimos a várias mudanças nas áreas públicas, que foram obrigadas a se adaptar às novas regras. No âmbito privado, o mercado imobiliário ainda se limita às exigências da lei, mas ações pontuais mostram que há um movimento em prol da diversidade.

De acordo com a arquiteta Sandra Perito, presidente do Instituto Brasil Acessível, "o Desenho Universal ainda é desconhecido, e as empresas ficam apenas na intenção de se adequar às normas". A arquiteta Silvana Cambiaghi, que é cadeirante, é mais cética e vê mais erros que acertos nos empreendimentos residenciais e comerciais atuais. Nas áreas privadas e mesmo comuns dos empreendimentos, pode-se encontrar verdadeiras gafes. Vãos de portas minúsculos que mal permitem o acesso de um obeso; rampas inacessíveis por causa de entradas exíguas ou com algum tipo de obstáculo; além dos inseguros pisos escorregadios que revestem halls de entrada e corredores de edifícios são alguns dos exemplos.


Os pioneiros

Empresas da iniciativa privada, como a construtora J. Bianchi de Mogi das Cruzes, uma das pioneiras em projetar segundo os sete conceitos do Desenho Universal, começam a empreitada como uma estratégia de marketing. Ela criou a linha Lifetime Home, que oferece imóveis mais flexíveis e adaptáveis, numa tentativa de inovar e dar um plus no empreendimento, e não de iniciar um novo modo de projetar.

"Com a grande aceitação do primeiro empreendimento da linha, o Olímpia, em Suzano (SP), percebemos que os novos conceitos traziam benefícios que a maioria das pessoas valorizam, e não uma minoria como imaginávamos", explica a arquiteta Juliana Tartaglia, gerente de projetos da empresa. O segundo condomínio da linha, o Odeon, está ainda em construção em Mogi das Cruzes (SP) e já vem com novas adaptações. De acordo com a arquiteta, a J. Bianchi está aprimorando a introdução do Design Universal em seus projetos e não tem previsão de quando os implantará de vez em todos os produtos da empresa.

Já a Tecnisa, que constatou a inversão da pirâmide populacional e a necessidade de imóveis voltados para pessoas com mais de 50 anos, depois de muitos estudos para desenvolver o novo produto, segundo o conceito da Consciência Gerentológica, esbarrou no desenho universal, concluindo que as adaptações eram bem mais simples que imaginavam e atenderiam uma gama bem maior de usuários. "Esse projeto é um protótipo. As adequações ocorrerão em todos os novos empreendimentos, independente do bairro e do padrão", afirma a arquiteta Patrícia Campos de Valadares, gerente de projetos da incorporadora.

A partir de 2010, as áreas comuns dos novos projetos da Tecnisa terão menos escadas, mais rampas, escadas submersas para facilitar o acesso às piscinas, pisos sem brilho e antiderrapantes, corredores e portas mais largos, em um total de mais de 30 itens. "Muitas coisas estão nos detalhes e estamos trabalhando para criar uma arquitetura que inclua a preocupação em atender às necessidades do maior número de pessoas, da criança ao idoso", explica a arquiteta.

No Estado de São Paulo, a Secretaria de Habitação e a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) lançaram em abril as diretrizes para a implantação do Desenho Universal em todos os novos empreendimentos de interesse social. O projeto Vila Dignidade, voltado para a terceira idade já é baseado no conceito. Já no município de São Paulo, a Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação) também tem planos de projetar os imóveis à luz dos princípios.

Infelizmente, apesar da lei federal, muitos municípios e Estados ainda não se deram conta da importância da introdução do Desenho Universal na arquitetura. Outras incorporadoras, questionadas sobre os itens que garantem a acessibilidade em seus empreendimentos, enxergam os princípios como ferramenta de marketing em vez de um conjunto de regras que atendem pessoas com mobilidade reduzida, deficientes e idosos, ao contrário do que realmente eles ditam.



O que diz a norma

Revisada em 2004, a NBR 9050 traz várias novas definições que esclarecem as medidas a serem tomadas em projeto, de acordo com o Desenho Universal.

 Área de transferência
 Área de manobra
 Área de aproximação
 Medidas para alcance manual e visual
 Comunicação e sinalização
 Tamanho de letras e distâncias, bem como contrastes de cores
 Pisos táteis de alerta e de orientação
 Declividade das rampas
 Áreas de transferência para a bacia sanitária, boxe, banheira
 Localização de barras de apoio
 Medidas mínimas para um boxe comum
 Medidas mínimas para vaso sanitário



Consciência gerontológica

Antenada com a demanda que surge relacionada à aquisição de imóveis por pessoas mais velhas, preocupadas não somente com seu conforto mas também com sua segurança, a Tecnisa lançou o "Projetando com consciência gerontológica", desenvolvido por meio de estudos realizados por uma equipe multidisciplinar, para a criação de ambientes inteligentes que proporcionem conforto, qualidade de vida e inclusão social para todas as pessoas. Um dos principais objetivos do projeto é ampliar a acessibilidade do idoso, que em geral é excluído dos empreendimentos imobiliários, à estrutura dos empreendimentos, proporcionando maior integração e qualidade de vida. E o conforto e a segurança dos usuários por medidas que facilitam a utilização, ou eliminam ou alertam sobre possíveis obstáculos.



Erros mais comuns

 Inexistência de banheiros acessíveis em áreas comuns como salão de festas, piscinas, playground
 Obstáculos nas áreas externas (escadas, degraus isolados, canaletas de águas pluviais sem grelhas)
 Acesso dificultado em piscina (foto 1)
 Maçanetas tipo bola ou difíceis de serem usadas (foto 2)
 Sanitários e lavabos com portas de 0,60 m, dificultando a entrada de obesos e cadeirantes
 Sanitários sem possibilidade de aproximação e transferência da bacia, pia e chuveiro
 Ausência de barras principalmente nos boxes do chuveiro (foto 3)
 Bancada e pias altas demais para crianças
 Vaso sanitário alto demais para crianças
 Tomadas baixas para pessoas idosas
 Largura de portas e circulação interna exíguas, dificultando a locomoção de pessoas em cadeira de rodas ou obesos
 Obstáculos dentro das unidades
 Janelas da sala com área de visibilidade muito alta (ideal no mínimo 0,60 m)
 Falta de sinalização em relevo e braile nas áreas comuns
 Elevadores com mensagens de voz, mas não indicam a rota
 Falta de mapa tátil, a sinalização acaba confundindo o usuário
 Inexistência de uma rota acessível até o elevador. Em geral colocam um patamar e degrau para acesso ao elevador social
 Ausência de rotas acessíveis externas em terrenos com declividade acentuada, grelhas ou grelhas inadequadas
 Campainha e interfone sem informação visual para pessoas com deficiência auditiva e visual
 Pisos derrapantes, como mármores polidos e cerâmicas esmaltadas e brilhantes
 Inexistência de vagas reservadas para pessoas com deficiência nas garagens

Sete mandamentos da acessibilidade

Devagar e de forma pontual, o Desenho Universal vem sendo introduzido em novos empreendimentos - e começa a derrubar os padrões do homem médio, transformando as regras da arquitetura

Por Silvana Maria Rosso





Banheiro universal




1) Espelho colado na parede ou com inclinação = 10o

2) Trinco sobre maçaneta do tipo alavanca: produto e instalação com conceito universal

3) Metal monocomando

4) Lavatório de semiencaixe proporcionando maior aproximação

5) Acionamento da descarga - altura máxima = 1,00 m

6) Barras de apoio

7) Bacia especial com altura = 0,44 m

8) Barra de apoio em "L"

9) Baguete chanfrado (em rampa)

10) Barra de apoio vertical

11) Banco basculante com cantos arredondados (0,45 m x 0,90 m)





Fonte - http://www.revistatechne.com.br//engenharia-civil/151/capa-sete-mandamentos-da-acessibilidade-154409-1.asp?utm_source=Virtual+Target&utm_medium=email&utm_content=Sete+mandamentos+da+&utm_campaign=NL+Techne+151&utm_term=angelomv@uol.com.br

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