Tuesday, January 27, 2009

Cidade "Com-Fusa"

Revista Habitare
Ano 8 Fevereiro 2008

Cidade "Com-Fusa"
Pesquisas colaboram com leitura sobre a dinâmica de crescimento das cidades

Análise propõe diálogo entre a economia urbana, a arquitetura e o urbanismo

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As cidades latino-americanas são produzidas de forma compacta e difusa. Os processos de adensamento das áreas de pobreza, nas áreas centrais, e de expansão de loteamentos, nas periferias, são simultâneos e alimentados tanto pelo mercado formal quanto pelo mercado informal de terras. Para o economista Pedro Abramo, pesquisador do Observatório Imobiliário e de Políticas do Solo do IPPUR/UFRJ, as duas dinâmicas retroalimentam a estrutura “com-fusa” das cidades. Coordenador nacional da rede de pesquisadores que permitiu o estudo do mercado informal de terras em oito capitais brasileiras (Projeto Infosolo), Abramo propõe um diálogo entre a economia urbana, a arquitetura e o urbanismo, fazendo uma análise sobre os processos de crescimento das cidades na América Latina.

Segundo ele, o problema tem origem na crise do Estado do Bem-Estar Urbano criado pelo Fordismo (na produção em massa o trabalhador é também consumidor, sendo necessária a ampliação dos salários e a criação de benefícios indiretos, como saúde, educação e, em alguns países, habitação). Nos países do Sul, no entanto, explica Abramo, houve um Fordismo truncado, com foco em uma pequena parcela da população. “É um estado do bem-estar excludente e nessa lacuna surge a lógica da necessidade, que move ações individuais e coletivas e determina o comportamento das pessoas no acesso à cidade”, avalia o professor, exemplificando como essa lógica impulsiona os ciclos de ocupação das cidades e produz um dinâmico mercado informal de terras.

“Estimativas indicam que, na produção das cidades, a informalidade corresponde a 50%. Tem portanto um enorme vigor”, ressalta. Abramo lembra que o IBGE indica queda das taxas de crescimento da população urbana, mas em sua opinião a variação absoluta não deve ser menosprezada. “Em 20 anos, de 1980 a 2000, chegaram às cidades 57 milhões de pessoas. É uma França, cinco Argentinas, e há necessidade de moradia e infra-estrutura para todas estas pessoas”, considera o professor, para quem a queda dos índices de crescimento demográfico nas cidades “é uma falácia dos demógrafos”. “E a inércia?”, questiona, alertando para uma explosão das áreas de informalidade.

Nas áreas centrais o fracionamento dos lotes e moradias leva à densificação e impulsiona a cidade compacta

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As pesquisas que coordena mostram que no mercado informal a lógica da necessidade segmenta o acesso à moradia – há o submercado de loteamentos e o submercado de assentamentos consolidados. O submercado que funciona como loteamento produz a cidade dispersa, que cresce nas periferias a partir da repartição de uma gleba de terra - o mais longe possível das áreas centrais, e por isso mesmo uma terra mais barata. É um submercado que desloca a fronteira urbana. Já nas áreas centrais funciona o submercado de assentamentos consolidados, onde a demanda por moradias leva ao fracionamento de lotes, à construção de novas unidades, à divisão e densificação das construções nas áreas de pobreza – um processo que impulsiona a cidade compacta.

Segundo o economista, processo semelhante ocorre no mercado imobiliário formal. A “cidade regularizada” também produz compactação e difusão a partir de uma lógica perversa. No mercado formal o encarecimento dos aluguéis compromete a capacidade de poupança das famílias para aquisição da casa própria. Existe então uma tendência de afastamento das pessoas para áreas periféricas, menos valorizadas – assim o morador gasta mais com transporte, compromete mais seu tempo para chegar ao trabalho. Em muitas famílias essa dinâmica estimula o retorno à centralidade, onde só é possível morar a partir do mercado informal de terras – está aí um ciclo também perverso, alerta.

Mas, ao mesmo tempo que apresentam certas dinâmicas semelhantes, o mercado formal e o mercado informal de terras têm também suas particularidades. Tratadas como "externalidades", as questões que atraem as famílias e determinam os preços de imóveis e aluguéis em áreas de favela são bastante específicas. Confiança e lealdade, por exemplo, são fundamentais no mercado informal. A rede de parentes e amigos também é estratégica para as famílias que contam com uma “economia de reciprocidade”.

“É possível deixar o filho com um conhecido, pedir um alimento ao vizinho. O morador não gasta com o salário para ter acesso a alguns benefícios que são obtidos por meio de suas relações pessoais e isso é valorizado na hora da venda, compra ou aluguel de um imóvel”, explica o professor. Segundo ele, “o mercado de terras é plástico, capaz de capturar estas sutilezas”. As análises devem resultar em mais uma publicação para o autor de ´A Cidade Caleidoscópica`, ´A cidade da informalidade. O desafio das cidades latino-americanas` e ´Mercado e Ordem Urbana` - livros que trazem interpretações sobre o funcionamento do mercado imobiliário nas cidades atuais.


Fonte: revista HABITARE
Ano 8 Fevereiro 2008
http://habitare.infohab.org.br/ConteudoGet.aspx

1 Comments:

Blogger GeoInteratividade said...

Se for possível quero maiores informações sobre o mercado informal de lotes, pois na leitura do texto não consegui, entende o que é esse mercado, aguardo resposta. Obrigado

4:22 PM  

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