O legado do Rio
O legado do Rio
31/12/2007 Fonte: O Globo
CLÓVIS BRIGAGÃO
Recentemente, tive a oportunidade de visitar o magnífico centro histórico-artístico de Quito, Equador. Além de ser o primeiro centro histórico nomeado como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco (o outro é Cracóvia, Polônia), a sua riqueza arquitetônica, composta por igrejas, conventos e sítios dos séculos XVI, XVII e XVIII, é algo fabuloso. No centro histórico de Quito convivem os estilos do melhor do barroco espanhol, do mourisco exuberante e da remanescente arte dos incas, que consagram o esplendor da cultura e da arte. O mais importante, no entanto, é a obra de restauração e conservação daquele espaço, sob os princípios da preservação patrimonial.
Inspiração para o grande centro histórico da cidade do Rio de Janeiro. Do ponto de vista de tamanho e riqueza o nosso é tão exuberante quanto o de Quito e mesmo o do México (com o pré-hispânico, o vice-reinado do século XVI ao XIX e o da Revolução de 1911, com a arte mural espetacular).
O Rio é, no sentido de sua natureza e histórico-arquitetônico, templo cativo como capital colonial, imperial e republicana até a metade do século XX: haja riqueza e valor de bens patrimoniais e arquitetônicos que se situam dentro de uma concepção de preservação, como importante contribuição à história do patrimônio mundial.
Tomemos o grande espaço quadrangular desde o Campo de Santana e seu entorno, estendendo à área portuáriaGamboa, à Praça Mauá, à Candelária e Praça Quinze, ao interior das ruas centrais da cidade - o Corredor Cultural, com a Primeiro de Março, a Rio Branco, a Saara, o Largo de São Francisco e, retornando, a Lapa, a Praça Tiradentes e seu entorno. Essa imensa extensão patrimonial impressionantemente original possui riqueza arquitetônica de valor inestimável: igrejas, museus, centros culturais, prédios históricos, praças e um múltiplo e colorido casario. Isso sem falar na riqueza do bairro de São Cristóvão - Quinta da Boa Vista, de Santa Teresa, partes de Botafogo, Laranjeiras, Glória, Catete etc.
O Rio de Janeiro é, por excelência, Patrimônio Cultural da Humanidade e não é nenhuma pretensão que o deseja ser. Deve-se, sim, ter um minucioso */_Plano Diretor_/* para a preservação e constituição de seu valor histórico. Há iniciativas privadas e intervenções pontuais do poder público. Mas devem ser muito mais intensas, contínuas e reunir os poderes federal, estadual e municipal, além da cooperação internacional e do próprio Centro de Patrimônio Mundial da Humanidade, da Unesco, que está reconhecendo o terreno para o parecer final.
A Copa do Mundo de 2014, que trará grandes somas de dinheiro, ficaria ainda mais relevante se acompanhada de investimentos para reforçar e contribuir para a preservação do patrimônio do centro histórico da Cidade do Rio de Janeiro. A Copa vai rolar e terá mais brilho se o patrimônio, merecidamente, também for agraciado!
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