Uma favela de prédios -Rocinha
Uma favela de prédios
Fonte: O Globo - 06/09/2007
Na Rocinha, quase 70% das construções têm de três a seis andares
Selma Schmidt
A primeira parcial do levantamento que está sendo concluído pelo escritório do arquiteto Luiz Carlos Toledo - vencedor de concurso do estado para elaborar o Plano Diretor da Rocinha, a ser executado com verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), da União - mostra a dimensão da ocupação da favela, que se assemelha a um grande paredão de concreto, em que os prédios são maioria. Das 6.864 edificações visitadas e mapeadas até agora, 67% têm de três a seis andares. Toledo espera terminar o estudo, iniciado há cinco meses, no fim de setembro.
O número de imóveis vistoriados até agora, e ainda não contabilizados, no entanto, é bem maior. Segundo Toledo, mais de dois terços da favela foram percorridos por sua equipe.
E é com base no que foi observado que o arquiteto não tem dúvidas para afirmar que a Rocinha tem mais do que o dobro dos 56.338 moradores contados pelo IBGE no último censo demográfico, em 2000.- Seguramente, a Rocinha tem entre 110 mil e 120 mil habitantes - diz o arquiteto.
Toledo montou uma filial de seu escritório na principal via da Rocinha - a Estrada da Gávea. Lá estão trabalhando 20 pessoas, entre universitários e estudantes de escolas técnicas, das áreas de arquitetura, engenharia e ciências sociais. Em duplas e munidos de câmeras, eles estão percorrendo cada canto da favela.
- Esses jovens não contam só as edificações e quantos pavimentos e lajes elas têm. Verificam quais os usos dos imóveis. Em cada lugar, também mapeiam pontos de ônibus, lixões, valas, entre outras coisas - explica o arquiteto.
Dos 6.864 prédios já mapeados, a maioria tem três andares (2.421), vindo a seguir os de quatro pavimentos (1.444). Outros 1.374 têm um andar; e 1.032 têm dois. Foram encontrados 440 edifícios com cinco andares; 110 com seis; 35 com sete; cinco com oito; e dois com nove pavimentos. Os pesquisadores estiveram ainda no único prédio de 11 pavimentos da favela, chamado de Empire State, encontrando 77 apartamentos, sete por andar.
- O levantamento mostra ainda que mais da metade dos prédios construídos na Rocinha supera os gabaritos fixados por decreto pelo prefeito Cesar Maia para as novas edificações na comunidade. O decreto está ultrapassado - diz a vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB).
Pelo decreto, na chamada área central, as novas edificações podem ter até dois andares. Dos 2.920 mapeados, 78% são maiores - alguns deles têm cinco, seis e até sete andares.
Para o Bairro Barcelos, Cesar fixou em quatro andares o gabarito. Dos 355 imóveis contabilizados nessa localidade, 29% são mais altos. A situação é semelhante na Vila Verde: 27% das 360 edificações mapeadas têm mais do que os três andares fixados.
Nas localidades conhecidas como Dionéia e Cachopa, 55% dos prédios tem mais de dois andares (gabarito da subzona D). Já na Paula Brito, 69% das 225 edificações contabilizadas têm mais de dois pavimentos. É na Paula Brito que fica o prédio mais alto da Rocinha.
No Portão Vermelho, 34% dos 94 imóveis estão acima do gabarito (um andar). O percentual é de 24% das 465 edificações do Laboriaux (máximo permitido é de dois andares). Já na Vila Cruzado, 21% dos 207 imóveis estão fora do gabarito (três andares).
Na Roupa Suja, 63% das edificações têm mais de dois pavimentos.
E na Macega, área de risco e non aedificandi, há 182 casas.
- É ótimo que o prefeito tenha criado uma legislação para a Rocinha.
Só que temos que reassentar famílias que estejam em áreas de risco, fora dos eco-limites e destinadas a ruas, calçadas e equipamentos urbanos. Não teria como reassentálas dentro da comunidade, se a legislação não permitir construir prédios mais altos em alguns pontos - argumenta Toledo.
O maior gabarito permitido pelo decreto - cinco pavimentos - vale para apenas um trecho da Estrada da Gávea: entre a Curva do S e a Cachopa.
A legalidade do decreto, porém, é questionada pelo vereador Luiz Antônio Guaraná (PSDB), que ingressou com representação no Ministério Público.
O decreto também foi transformado em projeto de lei por vereadores, e receberá emendas.
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